quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um grito pelo fim da intolerância religiosa

A Constituição Federal garante liberdade religiosa a todo cidadão brasileiro. Isso inclui o direito de escolher a religião que deseja e o de expressar as tradições e ritos da crença escolhida. Mas, nas comunidades afro-religiosas do Brasil isso não vem ocorrendo há anos. Em cada canto do país, adeptos das diversas religiões “ditas verdadeiras”, fazem suas próprias leis, perseguindo adeptos da Umbanda e do Candomblé, por pensarem não serem estas, “religiões verdadeiras”, mas quem pode dizer o que é verdadeiro ou falso quando se trata de religiosidade? O “verdadeiro” está na fé de cada um, está nas boas ações, no entender o outro como seu igual, suprimindo as diferenças, respeitando o livre arbítrio.

Em todo o Brasil grupos afro-religiosos unem-se para pedir o fim da discriminação e intolerância religiosa. Tem sido comum, caminhadas e fóruns, nos quais, o segmento afro-religioso, e até artistas, intelectuais e representantes de várias crenças, denunciam o preconceito e a perseguição por parte de outros grupos religiosos ou não.

Cotidianamente, lê-se nas revistas e jornais que os ataques são “sistemáticos”, inclusive pelos veículos de comunicação, por meio de programas evangélicos que mostram as religiões de matriz africana e ameríndias, como religiões do diabo.

O segmento afro-religioso convive com ofensas e com o desrespeito a sua crença; em cada esquina, vândalos depedram as oferendas aos orixás, que são simbologias importantíssimas para os afro-religiosos, dentre outros tipos de desrespeito e depedração.

Quem mais sofre com a intolerância e o preconceito são as crianças e as mulheres; as crianças, na escola, onde o Ensino religioso prega a religião cristã ou protestante, ao bel prazer dos professores, que sem pensar nas drásticas conseqüências de suas palavras para o psicológico de seus alunos, dizem a estes que os que não são católicos ou protestantes não são filhos de Deus. Fato recente, aconteceu com meu netinho de sete anos, na escola onde estuda, só porque ele ainda não está batizado em nenhuma religião. Quanto as mulheres, que têm de usar trajes na cor branca no período de suas obrigações, são taxadas de macumbeiras e seguidoras do diabo.

É fácil verificar que a idéia de intolerância religiosa parte da visão que muitos têm de que a sua religião é que é a verdadeira, e não abrem mão deste padrão, não se dão a chance de conhecer as outras culturas, outras religiões; contribuindo assim para o desrespeito com as demais religiões existentes, muitas delas, mais antigas que o catolicismo e que o protestantismo.

Tolerância religiosa significa reconhecer que cada povo, cada cultura, cada comunidade tem o direito de possuir sua própria religião e um modo próprio de reverenciar suas divindades. O que é padrão para um, pode não ser para outros, e ninguém tem o direito de impor qualquer religião ou crença a quem quer que seja. Tolerância significa aceitar o que parece errado, entender que o que é errado para uns, também tem sua verdade para outros; verdade esta que não é melhor nem pior do que qualquer outra verdade, e que deve ser respeitada não por bondade ou tolerância, mas principalmente, por acreditar que todos os grupos humanos possuem iguais poderes de ligação com a natureza divina; afinal, “ligação” ou “re-ligação ” nada mais é do que “religião”.

Mara Sílvia Jucá Acácio, Profª substituta do Centro de Ciências Sociais e Educação – DLLT -Curso de Letras-UEPA e mestranda em Linguística da UFPa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário