terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Bacharel em direito da Zona Sul do Rio é investigado por racismo

Polícia Civil divulgou textos que acusado postava no Facebook. Ele é suspeito de insultar pobres e negros através do site.

A Polícia Civil cumpriu, nesta terça (28), um mandado de busca e apreensão na casa de um jovem bacharel em direito, de 26 anos, acusado de usar o site de relacionamentos Facebook para insultar e demonstrar preconceito por pessoas que visitam a árvore de Natal da Lagoa, na Zona Sul do Rio.

Durante o início da tarde desta terça, o delegado adjunto da 14ª DP (Leblon), Alessandro Thiers, colheu o depoimento do acusado. A polícia chegou até ele através de denúncia anônima.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ai, não me bate doutor!

Por Flavia Alli

“Apanhei do meu pai, apanhei da vida, apanhei da polícia, apanhei da mídia”. É recorrente encontrarmos músicas funk que colocam a mídia lado a lado aos aparelhos repressivos ou instituições que conotem ideia de violência física. A violência subjetivada nesta música - de Cidinho e Doca, “Não me bate doutor”-, é mais uma das centenas que retratam o cotidiano de quem vive na favela.

A criminalização do funk na mídia (lê-se aqui mídia hegemônica) é prática histórica da sociedade burguesa na exclusão social e racial¹ e, hoje, na criminalização das drogas. Sem levar em conta o contexto econômico e social que vivem as comunidades consumidoras e promotoras da cultura funk, a mídia volta e meia associa este gênero musical à criminalidade. O funk é um prato cheio para as páginas policiais e jamais para os cadernos de cultura, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, berço do batidão.

Clique abaixo em Mais informações e leia a matéria completa da jornalista Flavia Alli.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ONU proclama 2011 como Ano Internacional para Afrodescendentes

As Nações Unidas lançaram, nesta sexta-feira em Nova Iorque, o Ano Internacional para Descendentes de Africanos. Num discurso, o Secretário-Geral, Ban Ki-moon explicou o objectivo do evento, que será marcado em 2011.
 
Segundo ele, o Ano Internacional tentará fortalecer o compromisso político de erradicar a discriminação a descendentes de africanos. A iniciativa também quer promover o respeito à diversidade e herança culturais. Numa entrevista à Rádio ONU, de Cabo Verde, antes do lançamento, o historiador guineense Leopoldo Amado, falou sobre a importância de se conhecer as origens africanas ao comentar o trabalho feito com quilombolas no Brasil.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Criminalização da pobreza

Entrevista exclusiva com Luiz Eduardo Soares sobre o tema

Crime e preconceito
“Quem associar pobreza a violência estará, involuntária e inadvertidamente, justificando o procedimento do policial”, afirma Luiz Eduardo Soares. Antropólogo e cientista político, ele coordenou a área de segurança pública do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000 e foi Secretário Nacional de Segurança Pública em 2003

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dia do Samba tem programação especial em Salvador


Patrimônio imaterial da humanidade. Assim é classificada a música contagiante que flui por todos os cantos da Bahia e do mundo. Instituído em 1963 e comemorado em praça pública desde 1972, o Dia Nacional do Samba é motivo de programação especial em todo o país. 

A escolha da data, 2 de dezembro, tem várias versões. Em uma delas, alguns historiadores contam que o dia foi escolhido em homenagem à primeira visita de Ary Barroso à Bahia.  

Nesta versão, o Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso. Ary já tinha composto seu sucesso “Na Baixa do Sapateiro”, mas nunca havia posto os pés na Bahia. Esta foi a data que ele visitou Salvador pela primeira vez. A festa foi se espalhando pelo Brasil e virou uma comemoração nacional. 

Salvador é uma fonte permanente de inspiração para quem sequer conhece a cidade, ou para outros tantos compositores que continuam levando seus sambas para todo o país, em vozes consagradas de artistas locais e nacionais, como Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Maria Bethânia. Entre os ‘bambas’ estão Nelson Rufino, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Riachão (Clementino Rodrigues) e o falecido Batatinha (Oscar da Penha), nomes que permanecem ligados ao mais autêntico dos ritmos brasileiros. As informações são da Secom. 

Leia matéria completa no Correio*

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A cor da tragédia no Rio

Sábado, fim da manhã, dou uma escapada do escritório. Fui trabalhar em um dia que costumo dedicar ao descanso porque precisava “preparar” a viagem de negócios que começo a fazer no dia seguinte.
Preciso almoçar. Café e cigarros, ininterruptamente – consumo um e outro sem perceber, quando trabalho ou escrevo –, fizeram-me cair a pressão.
O bar serve uma das feijoadas mais honestas da região da Vila Mariana. De carro, chego lá em 5 minutos.  Gasto mais cinco esperando pela comida e mais dez para comer. Antes da uma estarei de volta.
Meu escritório está na região há quase 15 anos. Vários conhecidos freqüentam o estabelecimento em que matarei a fome. Ao chegar lá, cumprimentam-me e me convidam a sentar à mesa repleta de garrafas de cerveja vazias.
Hesito. São pessoas que têm por costume fazer comentários que me desagradam. A educação, porém, fala mais alto e aceito. Encaro a turma que têm os olhos injetados pelo álcool.
Alguns dos homens, estando todos na mesma faixa etária que eu, mencionam a entrevista com Lula e começam a fazer piadinhas próprias da mentalidade política e ideológica que infesta a parte de São Paulo em que vivo.
Permaneço impassível e calado. Percebem que não estou achando graça. Um deles, menos grosseiro, resolve mudar de assunto:
– E o Rio, hein! Que tragédia!
Percebo que é outro tema que não vai prestar e me abstenho de comentários. Dedico-me à excelente batidinha de limão que servem ali.
Um outro decide escancarar a bocona: “Sabe qual é o problema do Rio?”. Percebendo que vem pedrada, mas já começando a me irritar, pergunto qual seria o “problema do Rio”.
– Pretos, cara. Notou que são todos pretos?
– Todos, quem, cara-pálida?
– Todos. Bandidos, moradores da região. Tudo preto. Esse é o problema do Rio.
Reflito, antes de responder. Ao menos em uma coisa esse demente tem razão: a tragédia carioca tem cor. Realmente, bandidos e população atingida por eles são negros em expressiva maioria. Então respondo:
– Mas a culpa não é deles, é sua. São racistas como você que fizeram com que mesmo depois de mais de um século do fim da escravidão os negros continuassem mergulhados nessa tragédia…
– Mas…
– Aqueles traficantes quase todos negros, um dia foram crianças que se inebriaram pelo poder que os bandidos exercem sobre essas comunidades.
A mesa com seis homens de meia idade fica em silêncio, perplexa com o que acabara de ouvir. Levanto-me, vou até o caixa, pago pela comida que não comi, subo no carro, sem me despedir de ninguém, e vou embora sem almoçar.
Já não havia mais fome.
Levo comigo, porém, uma certeza: a tragédia no Rio tem cor. Existe por conta dessa cor.
Aquelas populações, pela cor da pele, foram mantidas em guetos miseráveis, longe das preocupações dos setores exíguos e preconceituosos da sociedade que fingem que a culpa é dos governantes.

Eduardo Guimarães
Fonte: www.blogcidadania.com.br

Mãe de Santo é torturada em Ilhéus

É na terceira pessoa que a ialorixá Bernadete Souza Ferreira dos Santos, 42 anos, relata uma sessão de tortura que ela própria sofreu de policiais militares. “Pegaram Oxóssi, puxaram os cabelos, jogaram ele em cima de um formigueiro, pisaram no pescoço e disseram: ‘só assim para o demônio sair’”, denuncia, garantindo estar incorporada no momento das agressões.

Mãe de santo e coordenadora de educação do assentamento Dom Helder Câmara, em Ilhéus, Sul do estado, Bernardete diz que foi algemada e torturada após questionar a presença dos policiais militares numa área que pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), de responsabilidade da Polícia Federal (PF).

O fato ocorreu no último dia 23 e pelo menos uma dezena de assentados presenciou tudo. Somente através deles Bernadete diz ter tomado conhecimento do que sofreu. Isso porque, depois de algemada e puxada pelos cabelos, a ialorixá diz ter sido “tomada” por Oxóssi, seu guia espiritual.
Em seguida, jogada sobre as formigas, Mãe Bernadete ficou com marcas de mordidas nas duas pernas.

Ao CORREIO, Bernadete contou que o assentamento, localizado no distrito de Banco do Pedro, vivia um dia tranquilo quando, por volta das 14h30, ela e o marido, o agricultor e professor de filosofia Moacir Pinho de Jesus, assistiam televisão quando perceberam a presença de oito PMs, que adentraram o assentamento, fortemente armados, com um jovem algemado.

O casal perguntou sobre os motivos da presença da PM na comunidade, mas não obtiveram resposta. “Disseram que estavam numa investigação e que não poderiam dar explicações. A gente colocou para eles que o assentamento estava sob jurisdição do Incra e que, para entrar ali, tinha que ter ordem judicial”.

TRUCULÊNCIA  - Nenhuma ordem judicial foi mostrada. Os PMs entraram na sede da associação de moradores do assentamento e a vasculharam. Foi quando Bernadete resolveu ser mais incisiva. “É melhor vocês se retirarem. Isso aqui é uma área privada, um assentamento. Vocês podem entrar nas casas de quem não conhece as leis. Mas aqui nós não somos abestalhados”.

O suficiente para que o PM que comandava a patrulha, identificado como Adjailson, ordenasse a prisão dela por desacato. Bernadete foi algemada e puxada pelos cabelos.

O fato ocorreu no último dia 23 e pelo menos uma dezena de assentados presenciou tudo. Somente através deles Bernadete diz ter tomado conhecimento do que sofreu. Isso porque, depois de algemada e puxada pelos cabelos, a ialorixá diz ter sido “tomada” por Oxóssi, seu guia espiritual.
Em seguida, jogada sobre as formigas, Mãe Bernadete ficou com marcas de mordidas nas duas pernas.

Fonte: Correio*